A Grande Semana para nós católicos é marcada por uma série de celebrações cheias de significado. Por vezes, pode parecer estranho repetir todos anos estes ritos que lembram a paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus ou mesmo cansativo participar de tantas missas, procissões...diante dessas dúvidas, devemos sempre lembrar que cada momento vivido nestes dias faz parte de um único e grande mistério: o Amor de Deus por nós.
Ora, usando exemplos do dia a dia, é comum que comemoremos nossos aniversários de nascimento, de casamento, façamos reuniões com a família e amigos para relembrar momentos passados, não é? Se fazemos isso entre nós, por que não faríamos por Deus? Sua prova de Amor não merece ser lembrada e vivida?
As celebrações da Semana Santa nos ajudam a entender passo a passo como Deus é capaz de fazer tudo por nós. E, a partir desse reconhecimento, nós também nos tornamos cada vez mais prontos a retribuir esse amor, expressos no exemplo do serviço e da entrega ao próximo.
Pensando na importância dessa semana, sobretudo, o Tríduo Pascal, publicaremos nos próximos dias algumas explicações dos principais momentos dessa grande celebração que começa na Quinta-feira e termina no Sábado, com o anúncio da vitória sobre morte - sendo esta a primeira lição: a missa da Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão do Senhor e a Vigília Pascal são partes de uma única grande celebração. Da mesma forma que participamos das demais missas do ano "do começo ao fim", também o Tríduo deve ser vivido por completo. Começamos com a Quinta-feira Santa.
Com esta celebração, iniciamos o Tríduo Pascal, no qual fazemos memória do nucleio central de nossa fé: a paixão, morte e ressurreição de Jesus. No Tríduo Pascal, celebramos a Páscoa de Jesus em três dimensões. Hoje celebramos a Páscoa da ceia. Amanhã, celebraremos a Páscoa da paixão. Na Vigília Pascal e no domingo de Páscoa, celebraremos a Páscoa da ressurreição.
Na Páscoa da ceia, celebramos o mandato novo de Jesus na ceia que realizou com seus apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Naquela celebração pascal, Jesus dá uma prova concreta de amor por seu povo, pois Ele se doa totalmente a nós. O centro do rito é uma ceia, com a família reunida, com a comunidade reunida.
E essa doação e entrega se concretiza no serviço que Jesus presta, simbolizado no gesto do lava-pés. Isso nos sugere que a partilha do banquete eucarístico deve ser continuada no serviço fraterno da caridade e na busca da inclusão social.
A liturgia de hoje lembra três momentos fundamentais da história da salvação.
Primeiro momento: a Páscoa dos judeus – jantar comemorativo da libertação do Egito. Eles comiam o cordeiro pascal, lembrando a mão forte de Javé que os havia libertado (primeira leitura).
Segundo momento: a Páscoa de Jesus – foi a última ceia de Jesus. Marca o início da celebração da Páscoa Cristã. A missa vespertina da Quinta-Feira Santa atualiza para nós o gesto prático que Jesus fez no cenáculo com seus apóstolos. Primeiro, Jesus fez o rito do jantar dos judeus, recordando a Páscoa judaica: a libertação do Egito, a passagem do mar Vermelho e a Primeira Aliança ao pé do monte Sinai. Em segundo lugar, nessa mesma ceia, Jesus fez a passagem para a nova Páscoa, a Nova Aliança, agora selada no seu sangue derramado e no pão compartilhado, memória que os cristãos celebram sempre em cada missa. João expressa essa realidade com o rito simbólico do lava-pés. A Eucaristia leva necessariamente para a prática, parta o serviço. Todo o contexto da última ceia, conforme Leonardo Boff, aponta para o martírio: corpo doado, sangue derramado. A instituição da Eucaristia não é um rito simbólico: nela, Jesus faz a entrega de si mesmo. É um gesto definitivo, um só (por isso, a missa não renova o sacrifício, mas o traz presente, tornando-o visível de novo no sacramento).
Terceiro momento: a Páscoa dos cristãos – na segunda leitura, São Paulo narra a prática dos primeiros cristãos: reuniam-se nas casas para fazer a memória de Jesus. O grande ensinamento dessa tradição judeu-cristã é que nós somos chamados para a caminhada da libertação. Marcados pelo amor de Deus para construirmos um povo novo, nossa vocação é viver em comunidade, promover a paz, a justiça, a solidariedade: viver a Páscoa de Jesus, não conformar-se com os valores deste mundo.
O centro da Quinta-Feira Santa é a instituição da Eucaristia, do sacerdócio cristão a serviço e o novo mandamento do amor, fundado na não-violência. Nesse tripé está nosso ideal cristão, nosso sonho de um novo mundo:
• A instituição da Eucaristia nos lembra a partilha dos bens. Se todos somos filhos e filhas do mesmo Pai, se todos somos irmãos, a mesa do mundo deve ser para todos, sem fome, sem miséria, sem exclusões. Por que o mundo não coloca as potencialidades enormes de riqueza que tem a serviço da vida? Eis o convite da Eucaristia. Quem comunga sinceramente deve querer um mundo mais partilhado.
• O sacerdócio cristão colocado a serviço do povo nos lembra que o poder deve ser partilhado. Que o maior é aquele que serve. Que nossa atitude fundamental deve ser a do lava-pés, e não a busca desenfreada das honras, do prestígio, que acaba dominando os mais fracos. “Se eu que sou Mestre e Senhor vos lavei os pés…” Esse gesto de Jesus nos mostra como a tão apregoada democracia, da qual o mundo ocidental tanto fala, não é eucarística, porque não se põe a serviço, mas concentra sempre mais.
• O mandamento do amor nos lembra que a atitude suprema do ser humano, a exemplo de Cristo, é o perdão, a acolhida, a solidariedade, o empenho pela justiça, da qual vem a paz. Nunca o ódio, o revide, a violência, a guerra.
• O mandamento do amor nos lembra que a atitude suprema do ser humano, a exemplo de Cristo, é o perdão, a acolhida, a solidariedade, o empenho pela justiça, da qual vem a paz. Nunca o ódio, o revide, a violência, a guerra.
“Ao entrar neste mundo, tão marcado pelas injustiças e pelo ódio, pela segregação e perda de sentido da vida, Jesus Cristo vem nos ensinar a amar com o amor de Deus e a sermos felizes”.
O Mestre toma nas mãos o jarro com água e lava os pés dos discípulos. Veio para servir e faz questão de nos ensinar a fazer como ele. Ser discípulo é assumir como lema de cada dia o serviço gratuito aos irmãos e irmãs, a começar pelos mais necessitados.
Tradicionalmente a “ação ritual do lava-pés” evoca o significado profundo da entrega de Jesus, antecipada e anunciada profeticamente, no sacramento da Eucaristia. Embora opcional essa ação ritual, costuma ser celebrada em todas as paróquias e comunidades, é de grande valor e estima por parte dos fiéis. Ele tem duplo significado: primeiro, é gesto profético que anuncia a morte de Jesus como Servo Sofredor; Ele realiza um trabalho de escravo, antecipando sua morte na cruz, que era uma condenação reservada aos escravos. Segundo, é sinal de sua doação total, de seu amor. E este amor deverá ser vivido por nós, seus discípulos e discípulas, na continuação da missão do Servo do Senhor: “eu dei o exemplo para que vocês façam a mesma coisa que eu fiz” (João 13,15).
Após a comunhão, a Igreja entra em luto. Jesus é retirado, não para o sacrário, mas para um tabernáculo à parte. Este momento marca o início da agonia do Senhor no horto das Oliveiras. Enquanto o Santíssimo é levado da Igreja, em procissão solene, a igreja é desnudada. toalhas, imagens, flores. tudo é retirado - pois sem Jesus, nada existe. A partir deste momento, os fiéis são chamados a "orar e vigiar" com Jesus e não deixá-lo sozinho.
Fonte: Parte deste texto foi retirado do site bispado.org.br/
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