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Viagem do Papa à África


Há um dado dramático, entre todos aqueles que foram difundidos nestes dias, depois dos atentados desumanos de Paris. Um dado que merece uma profunda atenção, porque atribui à iminente viagem do Papa à África um significado extremamente importante: durante o ano de 2014, no mundo inteiro foram perpetrados mais de 13.000 ataques terroristas, provocando mais de 32.000 mortes. Foi o pior ano desde 2001. E os lugares onde mais se concentrou este buraco negro de violência e horror foram a Ásia e a África. Em particular na Nigéria, segundo um estudo do Global Terrorism Index, onde age o grupo subversivo mais perigoso, Boko Haram, que já causou a morte de mais de 6.600 pessoas.
A partes destas estatísticas concisas e cruas, já se pode entender a centralidade absoluta da viagem de Francisco neste trágico momento da história. Pelo menos por três motivos.
Em primeiro lugar, porque esta «guerra mundial por etapas», evocada profeticamente por Francisco desde o início do seu pontificado, já se configura com verdadeira guerra contra a humanidade: uma humanidade inocente, culpada unicamente de habitar os lugares dos atentados. Esta loucura terrorista, este delírio que aniquila homens e mulheres inermes com a presunção de se inspirar num deus todo-poderoso, não pode ter qualquer forma de justificação social, cultural, religiosa e política.
Depois, porque se trata de uma guerra de novo tipo, quase uma «guerra líquida», onde o terror e a morte eclodem de repente, sem campos de batalha definidos e com exércitos que se fazem e desfazem de maneira inesperada, como se fossem aparentemente invisíveis. Mas nada é invisível aos olhos sábios de Deus. E o seu juízo incontestáveis obre os homens terá como base a capacidade que cada pessoa tem de gerar amor, e certamente não a sinistra habilidade de difundir ódio e morte.
Em terceiro lugar, porque a viagem do Papa à África — não obstante tenha sido preparada e organizada muito antes dos atentados de Paris — se apresenta como uma resposta sábia a esta violência cega e sanguinária que, há demasiado tempo, atinge o mundo inteiro. Uma resposta que poderia ser resumida com três palavras: diálogo, periferias e misericórdia.
O diálogo inter-religioso e ecuménico com que terá início e acabará a viagem representa o modo concreto de experimentar o amor e de rejeitar o ódio. Os muros de separação são substituídos por lugares de escuta; as dificuldades de compreensão, por pontes de amizade e de encontro.
Quanto às periferias, são um dos grandes temas deste pontificado. E, sem dúvida, a África é a maior periferia do mundo moderno. Uma periferia onde, ao lado de misérias indescritíveis e de guerras fratricidas, reside a esperança típica dos povos jovens, que vivem a fé de modo genuíno e integral, como a viúva da parábola que, no tesouro do templo, lança tudo o que possui.
E finalmente a misericórdia. O ano jubilar terá início na África. Um ano que se apresenta como um kairós, ou seja, como uma oportunidade inestimável. Uma ocasião para mudar de rota, para inverter as estatísticas de morte e para percorrer o caminho indicado por Pedro: o da conversão pastoral.
Fonte: news.va


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