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Corrupção: não roubarás!


Entra semana, termina semana, e as denúncias de corrupção espantosa e gravíssima no âmbito da administração pública continuam... E cada vez mais graves! Tudo leva a crer que ainda teremos muito para ouvir nas cenas dos próximos capítulos. Como foi possível tanta apropriação indevida do bem público?

É absolutamente necessário que se investigue seriamente e sem entraves ao trabalho da Justiça! A CNBB já se pronunciou em diversas ocasiões recentes sobre essa situação vergonhosa na vida pública brasileira, incluindo mais uma Nota no último dia 18 de maio. Sinto-me representado nas palavras da Presidência da Conferência. Além da perplexidade e da indignação, o que mais podemos fazer neste grave momento da vida do nosso País?

As crises podem levar ao abismo; mas também podem ser ocasião para decisões sábias e para ajustar os rumos, se elas forem bem conduzidas. Na base dessa crise atual, há velhos vícios políticos, como a promiscuidade entre público e privado, o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, a infinidade de partidos pouco ou nada representativos de interesses públicos, o conflito de interesses na gestão dos poderes, a complacência e conivência em relação à má gestão do bem público, a impunida- de conseguida mediante o foro privilegiado estendido ampla- mente a mandatários de poderes públicos Tudo isso, e muito mais, precisa receber um basta, para se começar uma nova etapa vida política brasileira.

Mas a crise também revela a grave questão moral de uma consciência viciada e calejada, que já não se dá mais conta do tamanho dos males cometidos e segue pra- ticando atos imorais e insensatos. Como é possível empregar ou desviar para fins indevidos tanto dinheiro público, sem sentir do- res na consciência, e até continuar falando de ética em público, ou acusando outros de falta de ética? Como é possível ter sono tranquilo e voltar, no dia seguinte, a encenar publicamente, sem sentir vergonha ao olhar para as pessoas pobres e humildes, as mãos calejadas dos trabalhadores, para os doentes mal assistidos, as crianças sem escola digna, os desemprega- dos e tantas vítimas de tamanha desonestidade?

Que a crise não deixe ninguém indiferente, ou apenas com o dedo em riste, apontando contra os corruptos. Que nesta hora dramática, acorde a consciência, o senso ético e moral e a vergonha de se sentir ladrão, em quem pratica desonestidades. Não basta uma moral baseada em proibições ou na ameaça de castigos. Não se pode ser honesto apenas por medo da polícia e da cadeia; não está liberada a prática da desonestidade na calada da noite, quando ninguém vê; nem nos conchavos ardilosos, para burlar a lei e fugir do rigor dos tribunais. Não se deve ser honesto, só por temor da repreensão. A advertência e a dor precisam ser sentidas dentro de nós mesmos; ao tribunal da consciência moral devem ser dados ouvidos bem atentos.

Que podemos fazer, além de protestar nas ruas e denunciar os males? Comecemos por afirmar de novo que existe o certo e o errado na conduta moral pessoal e no trato da coisa pública. E levemos isso bem a sério. O relativismo moral nas pequenas coisas dá suporte ao relaxamento moral para a prática de grandes males. Quem começa roubando uma caneta e se justifica, está se preparando para cometer maiores roubos e encontrará justificativas para fazê-lo. Retomemos a prática sincera e perseverante do res- peito às pessoas, à sua dignidade, sua vida e seus legítimos bens. O respeito ao próximo será um freio poderoso contra a tentação da ganância e da busca de bens a qualquer preço.

E nunca devemos esquecer que o sétimo mandamento da Lei de Deus refere-se, justamente, à honestidade no trato com os bens: “não roubarás” (Ex 20,15; Dt 5,19). Isso vale para os bens privados e para o patrimônio público! É dever de justiça e caridade, do qual ninguém pode se considerar dispensado. Vale para as relações interpessoais e também para as relações comunitárias e políticas. Vale para os impostos a pagar e para a administração dos mesmos, em favor do bem comum. E vale para as relações com o meio ambiente, “casa comum” de todos os viventes, da qual ninguém deve se apossar de maneira prepotente, a ponto de lesar o direito que outros também possuem. E se a polícia não vê nem descobre, é preciso saber que para Deus não existem segredos nem coisas ocultas, das quais não sejam pedidas contas!
 
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo
Artigo publicado no Jornal "O SÃO PAULO" - Edição 24 de maio de 2017



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