Se você reparar no topo do folheto que usamos na missa verá uma inscrição "Ano B". Você sabe o que ela significa?
Este "ano" é o "ano litúrgico", aquele que começa com o Tempo do Advento e termina na festa de Cristo Rei, e que foi criado para acompanharmos através das leituras dos textos bíblicos a vida de Jesus em ordem cronológica do nascimento até a ascensão aos céus. Os textos bíblicos foram distribuídos ao longo de 3 anos - A, B e C - com o objetivo de dar uma visão e leitura de toda a Bíblia.
- No ano “A” a leitura principal do evangelho na celebração segue o Evangelho de São Mateus;
-No ano “B”, a leitura principal do evangelho segue o Evangelho de São Marcos;
-No ano “C”, a leitura principal do evangelho segue o Evangelho de São Lucas.
Já o Evangelho de São João é reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e Solenidades, para este evangelho não existe um ano litúrgico.
Sendo este um ano B, o que temos no Evangelho de Marcos?
Segundo a tradição, este Evangelho foi constituído a partir das pregações de São Pedro em Roma, as quais São Marcos acompanhava e registrava. Essa origem explica algumas das características do texto, por exemplo, o fato de haver muitas explicações de significado de palavras ou mesmo de costumes judaicos, pois, como as pregações eram feitas aos romanos, não era esperado que conhecessem o ambiente, a cultura e a língua da terra de Jesus.
Segundo o Pe. Jackson de Alencar, o evangelho de Marcos "procura esclarecer
quem de fato é Jesus para evitar distorções em seu
seguimento". Estas distorções tinham por fundamento a religiosidade politeísta dos romanos, era necessário "compreender que este único Deus se fez presente no cenário do mundo enviando seu Filho para libertar o homem do poder do mal, do medo da morte e dos castigos divinos" (Pe. Carlo Battistoni).
Em artigo publicado na revista "Vida Pastoral", a Profª Drª Maria Antonia Marques, sintetizou o evangelho nos seguintes pontos:
"Quem é Jesus de Nazaré: O evangelho
apresenta Jesus como o Filho do
Homem na figura do servo sofredor,
que veio conviver e libertar as pessoas
empobrecidas, exploradas e excluídas
pelo Império e seus colaboradores/as.
Proclamou o Reino de Deus para todas
as pessoas, independentemente da etnia,
da classe social, do gênero e da religião.
A sua fidelidade ao projeto do reino da
justiça e da fraternidade o levou a um
confronto com os poderosos do seu
tempo e, consequentemente, à cruz,
mas Deus o ressuscitou: “o Filho do
Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate
por muitos” (Mc 10,45).
O seguimento de Jesus: Esse evangelho
apresenta mulheres e homens que seguem
Jesus desde a Galileia até Jerusalém,
convivendo e aprendendo com ele.
Dentro de suas limitações, esse grupo
assumiu a causa do Reino de Deus, que
se fundamenta na justiça e na solidariedade,
no meio das pessoas que estão à margem da sociedade, como mulheres,
pobres, estrangeiros, crianças e doentes
(Mc 1,31; 6,33; 7,28; 8,1; 10,13.46).
Seguir Jesus implica assumir o mesmo
caminho de Jesus como servo sofredor:
“Se alguém quiser vir após mim, negue-se
a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Pois aquele que quiser salvar sua
vida a perderá; mas o que perder sua
vida por causa de mim e do Evangelho,
a salvará. Com efeito, que aproveita ao
homem ganhar o mundo inteiro e arruinar
sua própria vida?” (Mc 8,34-36)."
Há uma leitura bonita do Evangelho de Marcos se o observamos como duas partes, um antes e um depois, de um fato determinante: a profissão de fé de Pedro (Mc 8, 27-29):
E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?
E eles responderam: João o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas.
E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.
Para o Pe. Carlo Battistoni, São Marcos coloca esta passagem no centro do seu evangelho "porque o momento mais importante da vida de qualquer um, é quando ele entra num relacionamento "pessoa-a-pessoa" com Cristo. Quando o Senhor entra a fazer parte do mais íntimo da própria existência. O tema central é o encontro. O encontro definitivo que acontece apenas quando Jesus não é mais um 'outro', (...) mas entra a fazer parte da minha existência (...)".
Que tal aproveitar esta oportunidade dada pela Liturgia para nos aprofundarmos no conhecimento e no amor a Jesus para ir, definitivamente a este encontro?
Referências usadas neste texto:
- Revista Vida Pastoral, set-out 2012. Disponível aqui
- site: abiblia.org
- Livro: BATTISTONI, Carlo. Quando me encontrei com as tuas palavras: um primeiro caminho nas pegadas do Evangelho, 2013.
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