“Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de “devorar” tudo, satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração."
"A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, "que cobre uma multidão de pecados" (1Pd 4,8)." (CIC, 1434)
“Disto resulta que o homem contemporâneo deve jejuar, isto é, abster-se não só do alimento ou das bebidas, mas de muitos outros meios de consumo, como de estimular e satisfazer os sentidos. Jejuar significa abster-se, renunciar a alguma coisa. Porque renunciar a alguma coisa? Porque privarmo-nos dela? (…) A renúncia às sensações, aos estímulos, aos prazeres e ainda ao alimento ou às bebidas, não é fim de si mesma. Deve apenas, por assim dizer, preparar o caminho para conteúdos mais profundos, de que se alimenta o homem interior".
Quando os católicos fazem jejum?
De acordo com a Constituição Apostólica "Paenitemini" (Penitência), do Papa São Paulo VI, os dias de penitência obrigatórios para os católicos são a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa - nos quais, além do jejum, deve-se observar, ainda, a abstinência de carne vermelha e derivados.
Fora isso, a Quaresma é um "tempo penitencial", ou seja, no qual os fiéis são chamados a reforçar as práticas penitenciais, a oração e a caridade, sobretudo por meio das obras de misericórdia espirituais e corporais. Essas penitências quaresmais podem ser variadas: cabe a cada um analisar o que precisa mudar em sua vida, na sua relação com Deus e com os outros, e aproveitar a preparação para a Páscoa como caminho pessoal de conversão.
"A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia." (CIC, 1435)
Como é o jejum orientado pela Igreja?
Segundo a Constituição Apostólica "Paenitemini" (Penitência), do Papa São Paulo VI (Parte III, § 2):
"A lei do jejum exige apenas uma refeição durante o dia, mas não proíbe tomar um pouco de comida pela manhã e à noite, obedecendo, quanto à qualidade e quantidade, aos costumes locais aprovados."
Isso significa que o fiel pode optar por abrir mão do almoço ou do jantar, trocando-os por um lanche mais leve, nos horários habituais. É importante, porém, que no dia de jejum evite-se comer "ao longo" do dia. Além disso, é importante manter o consumo de água normalmente, assim como os medicamentos de que se faz uso contínuo.
Esta fórmula é indicada para todas as pessoas que gozam de boa saúde, mas pode ser flexibilizada de acordo com alguns estados/condições de vida, por exemplo para lactantes e pessoas cujo trabalho exige força física. Aqueles que, por diversas razões, não puderem fazer o jejum de alimentos podem "comutar" esta prática por outra prática piedosa, notadamente gestos de caridade.
Por fim, não esqueçamos que "apenas" o jejum não basta para o cristão. Como disse o Papa Francisco em sua Mensagem para a Quaresma deste ano: "O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o."
"A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados" (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2022)
Para a Quaresma deste ano, atendamos ao pedido do Papa, atendamos ao clamor do mundo, e intensifiquemos nossas orações e gestos pelo Paz no mundo.
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